Cobrir de cinza os grafites da cidade não é um problema só estético. Aliás, fique bem entendido que a arte não deve ser reduzida apenas ao aspecto estético e a própria estética não deve ser reduzida à uma “crítica do gosto”. Aceitar estes reducionismos é fazer o jogo dos expropriadores e dos fascistas que precisam destruir as reservas morais da sociedade para praticar sua violência.
O problema é humano, urbanístico e moral. O objetivo destas ações de limpeza é obliterar do espaço tudo o que não pode ser comprado para levar ou cercar.
Não existe uma “preferência” pelo cinza. É preciso desumanizar para coisificar e coisificar para tornar mercadoria.
Esta destruição simbólica do espaço público como bem comum, disponível à intervenção de todos, implica diretamente na desumanização das pessoas a quem só restou existir nestes lugares. Os que contam com ele para estar, transitar e trabalhar.
Ao ultraliberalismo vigente não basta um estado mínimo com os tão sonhados impostos mínimos, é preciso também um espaço público mínimo, um ser humano mínimo a ponto de ser reciclável – via trabalho prisional – ou descartável – via abandono total.
Estes são os valores daqueles que têm armas e capacidade de retirar cobertores e mantimentos dos moradores de rua, mas não encontram forças nem recursos para ajudá-los.
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