Dia 10 neste dezembro de 2014, a professora Carla Rodrigues publicou um texto intitulado O (cis)gênero não existe. O texto causou alguma repercussão nas redes sociais e propus-me a conhecê-lo. O título por si só prometia uma revelação sensacional. Li, acompanhei as discussões pela internet, ponderei sobre meus conhecimentos do assunto e tenho só duas breves considerações a fazer:
A professora Carla foi simpática ao repudiar veementemente a violência contra pessoas trans. Recomendo que da próxima vez, ao escrever uma crítica ao feminismo radical, transfeminismo ou ambos, não as misture com casos de agressão recentes. Nem que seja porque é chato demais agradecer o apoio e criticá-la no mesmo texto. Contudo, como é mais importante repudiar a violência, espero que ela continue repudiando.
Também, acalmaria muito os ânimos se a professora Carla apontasse as ocorrências de cisgênero que motivaram sua crítica. Me pergunto a que autores ou autoras na área de transgeneridade ela dirige sua crítica. As pessoas trans cuja escrita eu acompanho não usam o termo cisgênero no sentido que a professora apontou.
Acréscimo feito dia 16/dez/2014
Este trecho é um comentário que fiz numa rede social ao texto da professora Carla. Achei pertinente acrescentar estas informações:
Uma vez que a professora Carla afastou do seu discurso a discriminação e a exclusão de pessoas trans, com certeza suas colocações estão contempladas pela liberdade de pensamento.
Todavia, que me leva a não aceitar as conclusões é a definição de cisgênero no texto só ter uma pequena intersecção periférica com aquela presente nos discursos transfeministas brasileiros. De tal modo que vejo a polêmica está toda baseada numa polissemia equivocada.
Não descarto a hipótese que grupos acadêmicos estejam usando ‘cisgênero’ no sentido que a professora utilizou. Mas, como o termo tem uma comunidade de falantes interessada (da qual as pessoas trans que aqui opinam fazem parte), recomendo que revisemos e atualizemos o léxico. E que fique registrado que a terminologia ‘cis-‘ não começa nem termina na questão da adequação à norma de gênero. É a questão (in)adequação às normas de gênero que toca em alguns pontos a história do termo nos discursos trans.
A palavra cisgẽnero está bem longe de depender da discussão sobre a (in)adequação às normas de gênero para existir. Ainda que se descarte este eixo temático, resta tudo o que importa na cisgeneridade para se trabalhar.
Os links desta página foram verificados em 15/DEZ/2014
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