Pessoas cisgêneras simpáticas que me pedem para mostrar o lado bom da vida nesse 29 de Janeiro.
A comunidade trans tem sim milhares de histórias de força, superação, luta, garra, amor à qualquer prova e tudo mais que vocês adoram ver, ouvir e ler para sentirem-se bem à respeito da nossa exclusão e vulnerabilidade sociais.
Conformem-se que o dia 29 de Janeiro não é uma data comemorativa. É para vocês perceberem que os protocolos médicos, civis, jurídicos e sociais que sempre foram razoavelmente confortáveis para vocês, porque naturalizam seus corpos, são um inferno para uma parcela da população. Que não bastasse isso, ainda é odiada por muitos.
Então esqueçam hoje a parte da história na qual vocês sentem-se bem a respeito do que pessoas trangêneras conquistaram enquanto sofriam de coisas que vocês não sofrem na mesma sociedade. Aliás, apropriar-se das nossas conquistas para sentirem-se bem neste contexto é uma ofensa das mais graves.
Grata por não ficarem felizes por nós hoje. Sobreviver a uma carnificina institucionalizada não é exatamente o tipo de realização pela qual cumprimentamos alguém. É mais grave ainda tentar fazer isso enquanto a carnificina ainda ocorre.
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