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29 de Janeiro de 2014

29 de janeiro de 2014 2 comentários Artigo Uncategorized Leila Dumaresq

Hoje é o dia nacional da Visibilidade Trans (ou Trans*, ou Transgênera). É um dia para todo mundo enxergar os problemas e dificuldades das pessoas transgêneras em nossa sociedade. E como as pessoas não conhecem as lutas e dificuldades que este grupo social enfrenta!

A omissão do estado através dos seus três poderes vem permitindo que preconceituosos de todos os tipos excluam pessoas trans de lugares que outros cidadãos não imaginam que seria possível excluir uma pessoa.

A vulnerabilidade jurídica das pessoas transgêneras é muito maior, pois vivem em um limbo legal que fomenta todo tipo de abuso quando precisa procurar a justiça. Por que o estado só olha os dados civis da pessoa, muitas vezes alguém reconhecidamente transgênero não tem ao menos reconhecida sua condição quando procura proteção contra agressão, injúria, humilhação. Como se dará qualquer apuração à partir daí?

Aliás, já teve medo de ser enterrado com um nome que não é o seu? Não? Pois é. Como este medo é comum entre as pessoas transgêneras. Um grupo de pessoas que não pode esperar nada nem da morte. É por isso mesmo que contamos nossos mortos e lembramos seus nomes. Se não o fizermos, farão o contrário.

Veja que não sofremos só descaso, mas exclusão da vida civil e pública. O descaso imenso é apenas consequência dessa exclusão.

Enxergue:

Uma parcela da população que tem um comportamento natural e socialmente válido, só porque este comportamento é diferente da maioria, é excluída de serviços básicos como educação, saúde e seguridade social. Quando agredidos por suas famílias e na escola, o ministério público não se mostra preparado (e nem se sente obrigado, apesar da Constituição e do ECA) a proteger e amparar essas crianças e adolescentes. Quantas e quantasvítimas de maus tratos são tratadas como pessoas problemáticas pelo ministério público, deixando-as vulneráveis aos agressores.

Há os casos de assassinatos contra transgêneros quase nunca solucionados. E alguns, foram solucionados do modo mais desumano possível: O criminoso tinha tanta certeza da impunidade que o confessou simplesmente.

É neste Brasil surreal que vivem as pessoas transgêneras. A lista de abusos não acabaria aqui. E posso dizer que, infelizmente, já foi pior. Hoje ela é assim depois de tantos “avanços”, que tantas vezes são resoluções dúbias do executivo, que não surtem efeito prático algum, mas que a imprensa corre para mostrar de modo errado e polêmico, geralmente fomentando o ódio da população, como se a proteção à vida de uma população especialmente odiada não fosse dever do estado.

Abra os olhos e acorde para o país no qual você vive.

Há sangue lavado nas vias públicas pelas quais você passa. Há sangue sob os tapetes de entrada de serviços públicos e espaços sociais que você frequenta. Esta não é uma data das pessoas transgêneras para elas mesmas. São vocês, cidadãos não transgêneros, que não fazem ideia do que acontece com toda essa população.

Uma pessoa transgênera pode existir ou nascer entre as pessoas que você ama. E ainda que não nasça. Esta sociedade horrorosa pode transformar alguém que você ama numa pessoa que odeia transgêneros a ponto de segregá-los, humilhá-los, excluí-los e assassiná-los. Sua negligência não lhe traz nenhuma segurança. O preconceito contra transgêneros pode alcançá-lo também.

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2 comentários

  • Penny 29 de janeiro de 2014 em 09:27 - Responder

    Excelente texto, como sempre, querida!

    Visibilidade… Até quando serão precisos colírios, infinitas lentes de aumento, lunetas e telescópios pra tentar fazer com que a sociedade enxergue o que está diante do seu nariz? Admiro sobremaneira esse empenho “oftalmológico” contra a cegueira cissexista, ele é necessário! Porém, até que ponto tal cegueira não é compulsória, conveniente, dissimulada ou mesmo intencional?

    Segue invisível às pessoas “normais” o ódio que circula livremente entre as mesmas sobre as consideradas “aberrações”, seres humanos que sequer são lidos como tal… E os algoses, como vampiros se fartam do sangue que transborda dessas vítimas transparentes, e assim ninguém as vê. Vítimas que após serem sugadas, já não podem se ver no espelho, já não podem sair à luz do dia, muitas encaixotadas em seus armários… Tais vítimas são transformadas em monstros aos olhares dos demais, condenadas à exclusão, às trevas… Porém os verdadeiros vampiros restam impunes, livres em plena luz do dia, “pessoas de bem” as quais as vítimas devem sempre perdoar, sob pena de novas mordidas…

    Que ninguém precise mais de tanto alho, crucifixo e estacas! Que todas pessoas possam se olhar no espelho com orgulho e sair à luz do sol radiantes do que são: SERES HUMANOS!

    • Leila Dumaresq
      Leila Dumaresq 29 de janeiro de 2014 em 09:58 - Responder

      Sim Penny.
      Exatamente como você disse, amiga:
      As verdadeiras trevas não estão entre o anoitecer e a alvorada, elas estão dentro daqueles que beneficiam-se do silêncio. Todos eles. Os agressores e os que se fazem ignorantes. Eles não têm medo da luz, mas do que ela mostrará deles mesmos quando eles forem iluminados.

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