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Pra que tanto ódio?

14 de julho de 2013 0 comentários Artigo Textos Leila Dumaresq

O discurso de ódio é preciso, metódico e frequentemente pretende-se ciência. Quando não consegue revestir-se de autoridade científica, ataca a ciência estabelecida, quer relativizá-la apenas para afirmar-se sem empecilhos. Também é típico do ódio apropriar-se de algo bom ou certo para justificar suas atrocidades no aqui e agora. Todo ódio quer estas duas coisas: Autoridade e justificativa.

Hoje em dia a insensibilidade é tanta que escolhe-se qualquer motivo para destruir qualquer coisa. Quase não se vê conexão quando se trata de discurso de ódio. Dizem que vão destruir o mal e a doença. Pensam que vão sanar seus medos do futuro. Pura ilusão: Vivem em um mundo odioso e isto é o que as torna vulneráveis e inseguras.

Tragicomicamente, muitos discursos contra o preconceito e o ódio encaixam-se perfeitamente nesta descrição. Sinto-me no direito de chamá-los de discursos de ódio ao ódio.

É fácil odiar o ódio: É a sua maior força. O modus operandi do ódio é justamente disseminar-se em todos os lados de uma contenda. E as pessoas vão tornando-se odiosas umas às outras. Não há círculo mais vicioso… e odioso.

Sinto-me ridícula de tão redundante. Sei que estou falando o óbvio. Todavia é mais assustador não ver uma alma sequer alertando as pessoas para a quantidade de ódio em circulação. Temos que acalmar estes ânimos!

Não é evidente o suficiente? Que se meios justificados por boas intenções levassem a algo já teríamos alcançado estes fins? Pois em todas as épocas estivemos fazendo o pior em nome do melhor. Se carnificinas e vendetas resolvessem alguma coisa já estaríamos redimidos, vivendo numa utopia. E se o ódio às injustiças movesse o mundo para um devir melhor, já estaríamos neste futuro lindo faz tempo.

Nada disso funciona (ou já teria funcionado, de tanto uso), mas continua fácil odiar. Por isso eu peço mais coragem. A nossa situação é odiosa, admito, mas se não conseguimos ainda transformar o mundo por amor, porque estamos desumanizados, peço que façamos, pelo menos, com sangue frio e ética

Vamos nos humanizar: Daí virão os verdadeiros meios para melhorar a humanidade. Experimentemos em nós, pois isso é justo e produz conhecimento legítimo. Sejamos a mudança que queremos no mundo para então passá-la adiante. Quem conseguir humanizar-se primeiro que mostre o caminho. Quem puder imite e adapte para a própria experiência, ou invente outro jeito. Só vamos parar, por favor, de repetir o que não dá certo. Não entendo como “destruir” o presente irá apressar a chegada do futuro. Por outro lado vejo claramente como mudanças feitas hoje, mesmo que pequenos avanços reais, tornam-se tijolos na construção de um futuro melhor.

Chega de ódio. Ele só produzirá mais ódio. Eu garanto: Sempre foi assim e sempre será. Ódio é simplesmente a “solução” mais aplicada e fracassada ao longo da história. Se não é possível amar, que pelo menos se busque coragem para não odiar. O ódio nos move sim, mas nunca é para um mundo melhor.

Não escrevi pensando na onda de protestos recentes. Já opinei sobre eles neste post e neste outro também. Quero dar um toque sobre o abuso do ódio no discurso de transformação da sociedade. Espero um mínimo de bom senso:

Que ninguém confunda esta crítica com algum desejo de afagar opressores. Sou pacifista. Qual o problema? Vai me dizer que Gandhi não fez política nem lutou contra a opressão?

Vejo em nossa tolerância ao ódio o fortalecimento do discurso conservador. Quanto mais cedemos à raiva, mais nosso discurso assimila construções, formas e estilos do discurso opressor. Como é que as pessoas vão perceber a diferença entre os discursos políticos se eles escrevem e falam do mesmo jeito? Nossa diferença não pode ser apenas o conteúdo.

Na verdade, sou ainda mais exigente: Temos que ser diferentes no sentimento. Senão corremos o risco de dar mais uma volta no carrossel da história e tudo continuará na mesma.

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