Estou feliz porque nós, brasileiros, decidimos protestar. É um direito nosso e sempre alegra o coração usá-lo. São com os passos destas marchas que prosseguimos rumo a um país menos injusto. Há muitas pessoas tentando explicar estes protestos. Só vi tentativas de apropriar-se dos seus frutos. Contudo, importante é o momento. E ele é de cada um que desejar. Logo estas oportunidades passarão, então aproveitem.
Agora que expressei meu apoio não resta mais nada relevante para escrever. A comentação pelas redes sociais é intensa e interessante. Muito mais que os dedos de prosa que ainda tenho. Então, só se tiver tempo, vamos trocá-los:
Desde o início desta agitação política que o livro Os Sertões não saída da minha cabeça. Não sabia o porquê. Mas bastou pegá-lo e ler a introdução do primeiro volume para reavivar minha memória recente e histórica.
Lembrei-me que naquele tempo eram muitos os entusiastas do darwinismo social, da eugenia e do higienismo. Hoje, ainda encontramos este infeliz “mau senso” nos discursos políticos mais grotescos e preconceituosos. Aproveitam-se de ideias mais modernas – que no final das contas rejeitam tal forma de darwinismo – para construir discursos de segregação e violência.
Além disso, não havia ainda a tragédia das Grandes Guerras que despertariam o mundo para o horror de ver a prática em larga escala destas “teorias”. Mas Euclides, ao testemunhar os ocorridos em Canudos, sensibilizou-se e teve no sertão brasileiro um vislumbre do futuro tenebroso da civilização da época construía para si. Ainda bem que ele não omitiu-se, pelo menos posso fazer esta reflexão agora.
Muitas questões percebidas nos Sertões persistiram como graves problemas brasileiros pelo século XX e estão por aí: Racismo e preconceito; A ideia de progresso social justificando a destruição de comunidades abandonadas (indígenas, quilombolas e sertanejas); As reintegrações de posse sobre ocupações urbanas; O higienismo que executa mendigos e interna compulsoriamente viciados em drogas; O preconceito contra pessoas e comunidades “diferentes”; O uso de força para “resolver” qualquer problema social. Tudo em nome da manutenção da ordem e pela promessa de progresso.
Este espírito centenário e sanguinário está também no descaso homicida e na truculência das instituições até hoje. E foi assim que senti algo muito novo no ar: Parece que encontramos um jeito ou uma brecha para, quem sabe, acabar com estes ciclos de abandono e violência. Depois desta manifestação, muitos destes discursos seculares ficarão mais fracos e não é pouca coisa. É uma mudança significativa. Precisamos de uma nova ordem e de um outro tipo de progresso: Progresso humano para todos.
Tudo só começou e temos apenas incertezas quanto ao desfecho destes episódios. Porém, só o povo com coragem para lançar os dados da história pode mudar seu curso. Sim. Tudo isso é só um começo, mas assim como vi em Canudos um sintoma da podridão de um projeto de civilização, vejo um início auspicioso nestes protestos de Junho de 2013. Começamos bem, com grito de guerra bem diferente e revolucionário:
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